sábado, 21 de abril de 2012

Livro de Sonetos - Vinicius de Moraes

Há cerca de três dias (re)comecei a ler o Livro de Sonetos de Vinicius de Moraes.
Em 2002 meu pai me deu a coleção Antologia Poética (editora Companhia das Letras), novíssima, mas cuja compilação data de 1996. 
Porque reler?
Por que é Vinicius.
A primeira edição de Sonetos foi compilada pelo próprio autor, em 1957, e lançada pela Editora Portugal. Contava com 84 páginas e 35 poemas, todos eles (como informa o título) sonetos, uma das marcas que consagraria Vinicius ao longo de sua carreira.
Dez anos mais tarde, ele acrescenta vinte e cinco poemas à nova edição, todos inéditos. 
A pergunta que chama a atenção é: porque um poeta da segunda geração do modernismo consegue, até o dia de hoje, cativar leitores com sonetos?
Primeiramente, vamos relembrar a história dos sonetos.
Do italiano sonetto, a palavra significava pequena canção ou pequeno som (literalmente) e foi criado no século XIII, na Sicília, onde era cantado na corte de Frederico II. O número de linhas e a disposição de Rimas permaneceu variável até que o poeta Guittone D'Arezzo tornou-se o primeiro a adotar e aderir, definitivamente, à forma de demonstrar uma emoção, sentimento ou idéia, o soneto.
Dante Alighiere, autor consagrado de A Divina Comédia (e também seguidor de Guittone), também compunha sonetos já em sua infância. É possível observa-los na obra Vita Nova, no qual fala de seu amor impossível por Beatriz (provavelmente Beatrice Portinari).
Anos se passam, até que os sonetos se imortalizam definitivamente nas mãos de William Shakespeare e Luis de Camões, que dão aos sonetos os toques necessários para que ganhem importância mundial.
Outros nomes podem ser associados à métrica tão famosa: Charles Baudelaire, Aleksadr Pushki, os brasileiros Gregório de Mattos, Claudio Manuel da Costa, Tomás Antonio Gonzaga (quem não se lembra de ter lido em algum lugar o famoso Marília de Dirceu: "A minha amada / é mais formosa / que branco lírio, / dobrada rosa, / que o cinamomo, / quando matiza / co'a folha a flor"), Cruz e Souza, Alphonsus de Guimaraes, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, entre muitos outros. 
A pergunta que fiz inicialmente foi na verdade para contar essa "breve" história do soneto. Passando pelo século XIII, onde expressões rebuscadas traziam sob seus significados aspectos sentimentais importantes para o entendimento do soneto (e ao mesmo tempo, caso o leitor seja observador, aspectos fonéticos que traziam compreensão apenas quando falados). 
Talvez seja nesse aspecto, da linguagem rebuscada, do entendimento, do "falar", "fonético", que alguns leitores se percam e não gostem de poemas (e esquecem-se que suas músicas favoritas sejam métricas acertadas, com jogos de rimas e acerto lineares). Durante os estudos no Ensino Médio sobre o Parnasianismo, há sempre um certo enjôo perceptível e uma interpretação exigente. Eu e minhas amigas nunca fomos aversas à leitura, por isso eu creio que não tenhamos tido esse "sintoma anticultural". 
Ao se tratar do Modernismo, principalmente de sua 2a fase, a história é outra. E nesse momento volto a discutir Vinicius de Moraes.
Com uma linguagem mais simples, cotidiana, sensual e, por vezes, carregada de erotismo, Vinicius mostra que a vida pode girar em torno de um eixo sublime: do querer, do ser, do homem, do pai, do amor e a poesia.
Como resenhar um livro de poemas? Certo é que eu ainda sou nova nessa jornada recente. Mas como expliquei no início, Vinicius de Moraes não é leitura nova em minha vida. E seus sonetos não podem ser resenhados ou explicados. Podem ser lidos e sentidos. 
Como quando se lê "Soneto de Fidelidade" pela primeira vez e as memórias de tê-lo escrito em alguma folha separada, pensando em alguém virem à tona. Ou, aos sortudos de terem-no recebido algum dia, saber que houve uma alma apaixonada e amorosa o suficiente para ler sonetos e se lembrar de você. Um culto à cultura.

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar emu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

(Estoril, outubro de 1939)

Ou àqueles que sentem que o amor é como o explicitado em "Soneto do Amor Maior". O mais difícil foi chegar ao ser amado, agora é mantê-lo perto de si; a dependência tão sóbria e a contradição tão explanada chega a irritar. E perceber que o poeta, ébrio que sempre foi, seja de amor, seja de solidão, seja conduzido por algum elemento externo, tem razão em seu raciocínio ao explicar uma batalha interna que existe dentro dos amantes. 

Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.

E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal-aventurada.

Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer ― e vive a esmo

Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo.

(Oxford, 1938)

Em meio aos reencontros, "Soneto de Véspera" explica a relação serena dos enamorados que, por momentos, vivem dúvidas particulares. Devo afirmar que durante a leitura fiz viagens miraculosas, deixei a imaginação me levar. Nem sei porquê. Aqui, Vinicius tocou na ferida.

Quando chegares e eu te vir chorando
De tanto esperar, que te direi?
E da angústia de amar-te, te esperando
Reencontrada, como te amarei?

Que beijo teu de lágrima terei
Para esquecer o que vivi lembrando 
E que farei da antiga mágoa quando
Não puder te dizer por que chorei?

Como ocultar a sombra em mim suspensa
Pelo martírio da memória imensa
Que a distância criou ― fria de vida

Imagem tua que eu compus serena
Atenta ao meu apelo e à minha pena
E que quisera nunca mais perdida...

(Oxford, 1939)

Livro de Sonetos é uma obra de descobrimento interior, onde podemos nos desvencilhar da rotina e nos aprofundar para encontrar o amante ardoroso que há dentro de cada um de nós.

2 comentários:

  1. Aim... perfeito amiga....
    Depois quando tiver um tempo leia "A maldição do tigre" e ótimo *-*

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    Respostas
    1. Sim, perfeito mesmo!
      A maldição do tigre.... poxa, me deparei com esse livro enquanto escolhia livros para o Desafio Literário.
      Hoje eu peguei na biblioteca o livro "Não Conte a Ninguém"; vi ele na Americanas e achei muito interessante. É de Harlan Coben.
      Aliá, qualquer livro desse autor é altamente indicado, viu?
      Bjos, miga!

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